Investigada por fraudar diagnósticos de câncer a fim de faturar com cirurgias, a médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti chegou a dizer para uma de suas pacientes ir à igreja agradecer a Deus por ter descoberto um melanoma em estágio inicial, que, de acordo com investigações, nunca de fato existiu. As declarações da profissional de saúde foram registradas pela própria paciente em áudio que foi posteriormente obtido pelo portal G1.
– Você acredita em Deus? Vou falar uma coisa para você. Eu estou arrepiada aqui. Você vai sair daqui e vai passar na igreja para agradecer a Deus. (…) Não sei se você é católica ou não, mas passa na igreja agradece a Deus, tem coisas assim que a gente tem que agradecer, sabe? Tem que agradecer, porque, como eu disse, a chance de pegar assim [melanoma], nesse estágio de que a gente só amplia a margem e está curada, é uma dádiva. (…) Não precisa se preocupar com metástase – disse a médica, enquanto a paciente funga ao fundo, aparentemente chorando.
Em outro momento da gravação, Carolina afirma que a mulher está com 70% de células malignas e que foi negligente com a própria saúde. A médica ainda alega ter síndrome do melanoma na própria família, afirmando que perdeu parentes devido a esse câncer de pele.
– Eu tenho síndrome do melanoma familiar, eu já perdi uma avó por melanoma, eu já perdi um primo por melanoma, porque Deus não deu oportunidade da gente conseguir pegar uma lesão no estágio que a gente pegou a lesão da [diz o nome da paciente]. Eu me identifiquei muito com você. Quando você falou “eu tenho o meu filho”, eu pensei assim “meu Deus do céu, eu tenho meus filhos”, entendeu? Me coloquei no seu lugar – acrescentou.
Ouça a gravação completa:
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O áudio foi registrado em janeiro de 2024, pela própria paciente. Ela afirma que decidiu gravar a consulta porque já teve melanoma em 2013 e pretendia enviar as orientações da médica para seus familiares. Entretanto, ao comparar exames laboratoriais com o laudo que recebeu no consultório de Carolina, a paciente notou inconsistências e buscou as autoridades.
De acordo com o delegado que conduz o caso, Helder Lauria, o áudio em questão “ajuda a comprovar o alegado pela vítima, pois confirma as palavras ditas pela médica”.
Carolina foi denunciada por ao menos 22 vítimas até o momento, e 18 delas já foram ouvidas em depoimento. Segundo elas, o modus operandi do golpe iniciava com a médica alegando que algumas das pintas e manchas na pele de pacientes poderiam ser cancerígenas.
Posteriormente, a profissional de saúde coletava material e o encaminhava para exames laboratoriais. No retorno do paciente ao consultório, a médica apresentava um laudo falso e solicitava a remoção da pele na região supostamente afetada, em um procedimento conhecido como ampliação de margem.