João estava na ilha de Patmos, quando recebeu a revelação — o Apocalipse (Ap 1:9). Naquele local ele teve uma experiência maravilhosa!
João relata que essa visão ocorreu quando ele se encontrava na esfera espiritual, e que ouviu uma voz forte semelhante ao som de uma trombeta, ordenando que fosse escrito tudo o que estava vendo naquele momento, e depois enviado às sete igrejas (Ap 1:10,11).
João teve uma grande surpresa quando se virou para ver quem falava essas coisas, pois primeiramente ele viu sete castiçais de ouro (Ap 1:12), depois disso, no meio desses sete castiçais, João viu um semelhante a um filho de homem (cf. Dn 7:13), com vestes longas e cingido, à altura do peito, com um cinto de ouro (Ap 1:13).
Tanto a cabeça como os cabelos dele eram brancos como lã, tão brancos quanto a neve. Além disso, seus olhos eram como chama de fogo (Ap 1:14). Os pés dele brilhavam semelhante ao bronze polido, como que refinado numa fornalha. E sua voz era uma voz forte, como som de muitas águas (Ap 1:15). Além disso, ele tinha sete estrelas em sua mão direita, e da sua boca saía uma espada afiada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força (Ap 1:16). Essa visão foi demasiadamente forte! João não suportou a grandeza dessa revelação e o vê-lo, caiu aos seus pés como morto (Ap 1:17).
Em sua descrição até aqui, João evitou revelar a identidade daquele que lhe falara, mas acaba revelando de uma forma belíssima, ao dizer que Ele colocou sua mão direita sobre João e lhe disse: “Não tenha medo. Eu sou o Primeiro e o Último. Sou Aquele que Vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre! E tenho as chaves da morte e do Hades” (Apocalipse 1:17-18, NVI).
João, que andou com Jesus Cristo aqui na terra, agora estava também diante de Jesus Cristo, na esfera espiritual. Que privilégio!
Cada detalhe dessa descrição aponta para elementos importantes sobre as características “daquele” a quem João viu em seu relacionamento com as Igrejas (Ap 2:1,8,12,18; 3:1).
Mas o que mais chama a atenção é o fato de Jesus estar vestido com essas vestes longas e cingido, à altura do peito, com um cinto de ouro (Ap 1:13), pois esse é um ponto fundamental para compreensão do que Ele pretende revelar acerca de si mesmo durante sua apresentação a cada uma das igrejas.
No antigo testamento, o Sumo Sacerdote usava vestes santas, que serviam para glória e ornamento (Êx 28:2,40). O Sumo Sacerdote, que tipificava Cristo, como o Mediador entre Deus e os homens, usava o peitoral do juízo (Êx 28:15-30; 39.8-21) que continha doze pedras preciosas representando as doze tribos de Israel (Êx 39:14). Dessa forma, estava carregando o nome do povo de Deus sobre o coração, sempre que entrava no Santuário — o Tabernáculo ou o Templo — para se apresentar diante do Senhor (Êxodo 28:29).
Essa era a vestimenta do Sumo Sacerdote, usada apenas por aqueles que eram da ordem de Arão, durante todo o período do velho testamento (Êx 28:1,4,41; 29:44; 30:30; Lv 8:5, etc.).
Mas Jesus, não era da tribo de Levi, muito menos da “casa de Arão” (Hb 7:11), a família sacerdotal (1Cr 12:27; Sl 115:10,12; 135:19), mas da tribo de Judá (Hb 7:14), da “casa de Davi” (Lc 1:32), a família real (Ap 5:5).
Com essa vestimenta longa, Jesus apresentou-se como o único e verdadeiro Sumo Sacerdote Eterno, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 4:14; 6:20; 7:11,17,21 cf. Sl 110:4), exaltado acima dos céus (Hb 7:26), assentou-se à direita do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo (Hb 8:1-2), obtendo um ministério muito mais excelente, pois Ele mesmo é o verdadeiro Mediador de superior aliança (Hb 7:21-22) instituída com base em promessas muito superiores (Hb 8:6), o próprio céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus (Hb 9:24).
Jesus não traz sobre o coração as doze pedras, que representavam o exercício do ofício sacerdotal apenas para as doze tribos de Israel. Antes, sendo da ordem de Melquisedeque, muito superior a Abraão (Hb 7:4-10), seu sacerdócio é maior, melhor e ilimitado. Observe que Ele carrega em seu peito o cinto de ouro, demonstrando que seu eterno sumo sacerdócio vai além das doze tribos, e alcança “todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7:9). Além disso, Ele, que também é apresentado como o Rei dos reis (Ap 17:14; 19:16), é quem tem autoridade para consagrar pessoas de todos os povos para reis e sacerdotes (Ap 5:9-10). Dessa forma, Jesus se apresenta como o único Sumo Sacerdote “perfeito para sempre” (Hb 7:28), sendo também o único e verdadeiro Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5)!
Sua autoridade abrange toda a criação, inclusive as “coisas celestiais” (Hb 9:23), por isso após sua morte e ressurreição, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote, “adentrou os céus” (Hb 4:14), e tem o poder (Mt 28:18, Ef 1:20-21, Fp 2:10, 1Pe 3:21-22) de reconciliar com Deus “todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Cl 1:20).
“Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro Santuário, porém no próprio céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus.” (Hebreus 9:24, NAA)
Guarde bem essa informação, ela será necessária para compreender as mensagens enviadas a cada uma das 7 Igrejas.
Felipe Morais é servo temente ao Senhor, e atua como pastor na Igreja Batista do Reino. Pós-graduado em Teologia, é um biblicista apaixonado pelas Escrituras. Comentarista, escritor e cronologista bíblico, atua como professor no YouTube pelos canais Curso Bíblico Online e Devocional Bíblico Online.