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Arminianismo e a liberdade religiosa
DEVOCIONAL
Publicado em 30/05/2023

A influência arminiana no pensamento ocidental é muito positiva, pois “o arminianismo exerceu forte influência sobre a formação da liberdade religiosa no Ocidente”.

 

A liberdade religiosa não é um assunto isolado dentro de uma sociedade democrática. A liberdade religiosa faz parte do andamento da liberdade de expressão. O fato de crer ou não crer, ser religioso ou não, é o andamento da mecânica de expressar a opinião do que se pensa, é o assunto em questão. Segundo Dr. Zilles, “a consciência do homem e de sua autocompreensão a partir do absoluto enquanto atingível pela inteligência” (ZILLES, 2012, p.5).

Uma pessoa que possui uma religião, não é um ignorante que não pode se expressar. Pelo contrário, um religioso pode expressar a sua fé, porque ele usa o seu raciocínio como argumentação sobre em que acredita. Da mesma forma, o não religioso utiliza a sua razão para argumentar, o motivo de não crer. O arminianismo crê que a salvação em Cristo Jesus é oferecida para todos (João 3:16). A graça de Deus (que chamamos de graça preveniente), é o que toma iniciativa, porque o ser humano está morto espiritualmente (Efésios 2:1). A mesma graça que se inicia, é a graça que capacita a corresponder ao convite da salvação, dizendo sim ou não (João 16:7-11). Denominamos isso de livre arbítrio libertário, porque só pela graça de Deus o ser humano pode ser liberto do pecado.

A influência arminiana no pensamento ocidental é muito positiva, pois “o arminianismo exerceu forte influência sobre a formação da liberdade religiosa no Ocidente” (DANIEL, 2017, p.289).  O que ajudou a disseminar as visões arminianas, segundo Nobbs, “foi o comércio holandês, que era intenso nesse período” (NOBBS, 1938, p. 103 e 105).  Essa liberdade de expressão religiosa, que influenciou o mundo ocidental, foi defendida pelo Armínio. No final da sua vida, o teólogo holandês “defenderia que a Igreja Holandesa aderisse a uma compressão da confissão de fé que se assemelharia muito ao que chamamos hoje de ‘espinha dorsal’ da fé cristã, aceita por todas as denominações protestantes” (DANIEL, 2017, p.290). Essa visão, as principais doutrinas da fé cristã, seria o fundamento da fé protestante, e os pontos secundários, as igrejas teriam a liberdade de interpretar segundo o seu entendimento.

Embora o assunto seja amplo, é de suma importância falarmos dele em nossos dias. Certos grupos acadêmicos afirmam que “a religião só trouxe a alienação para história da humanidade”. Sem dúvida o cristianismo é uma das religiões mais atacadas por esse tipo de crítica. De fato, ao longo do tempo, sabemos que o cristianismo sofreu com os maus feitos de pessoas ambiciosas e obscurecidas por um pseudocristianismo, que se distanciou por séculos do genuíno Evangelho de Cristo. Ainda assim, seria muito injusto não valorizarmos as contribuições do cristianismo em vários setores fundamentais para uma sociedade, como educação, saúde, assistência social, etc. Por essa razão, a intolerância religiosa não pode ser a nossa “filosofia”. E quando falo de intolerância religiosa, não estou fazendo apologia ao “pensamento concorde” que não devemos discordar de ninguém. Pelo contrário, defendo que temos o direito de nos posicionar e devemos fazê-lo. Nesta sociedade pluralista, temos que nos posicionar, porque as Escrituras nos ensinam “... estais preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” (1 Pedro 3:15b). Temos que estar preparados para responder a nossa fé diante dos desafios do nosso tempo.

Não podemos abrir mão do que cremos e professamos. Entretanto, nenhum posicionamento pode ser utilizado para violência física, só pelo fato de alguém ou um grupo pensa diferente de mim. Podemos discordar de outros grupos religiosos ou não religiosos. Mas nada justifica a falta de ética e respeito entre os indivíduos. Afinal, cremos, segundo as Escrituras, que todos os seres humanos são “imagem de Deus” (Gênesis 1:26), por que rebaixar essas pessoas? Os Evangelhos narram que o Senhor Jesus Cristo atendia a todos, literalmente. Todavia, Ele também denunciou vários erros e pecados dos grupos da sua época. Foi assim com os fariseus (Mateus 23), com os saduceus (Marcos 12:24), com Herodes (Lucas 13:32) e discípulos (João 6:60-69). O Salvador não se desfez de ninguém. Contudo, não deixou de se posicionar, fazendo a vontade do Pai. Portanto, sigamos o exemplo de Jesus Cristo, a fim de que, com amor e justiça, possamos exercer o nosso papel de cristão-cidadão.

Referências bibliográficas:

DANIEL, Silas. Arminianismo – A Mecânica da Salvação: uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça de Deus e a responsabilidade humana. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.   

NOBBS, Douglas. Theocracy and Toleration. 1938. Cambridge University Press In: MCCULLOH, Geraldo O. A Fé e a liberdade do Homem: A Influência Teológica de Jacó Arminio. São Paulo: Editora Reflexão, 2015.   

ZILLES, Urbano. Filosofia da Religião. São Paulo: Paulus, 2012.

Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.

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